Comentários Eleison: SACERDÓCIO APRECIADO – II

 

Por Dom Williamson

Número DCCCXI (811) – 28 de janeiro de 2022

 

SACERDÓCIO APRECIADO – II

 

Para afastar-se de Deus, os homens adoram as máquinas.

E isso significa tornar-se seres desumanos.

 

A conclusão dos “Comentários” da semana passada foi expressa de forma um tanto provocativa, e pode precisar de alguma explicação. Aqueles “Comentários” apresentavam um jovem estudante de “psicologia” a quem Deus deu verdadeira luz para entrar na Igreja Católica enquanto estudava. Mas quando começou a exercer, não sem êxito, a profissão de “psicoterapeuta”, percebeu que um sacerdote católico é que deveria estar dizendo aos seus pacientes o que ele mesmo lhes dizia. Os “Comentários” também trouxeram um dístico de luto pelos homens modernos, que por um lado levam muito a sério a psicologia, a psiquiatria, a psicoterapia, etc.; mas, por outro lado, não acreditam em nenhuma alma espiritual, ou “psique” – palavra grega para “alma”. Tratemos um pouco dessa contradição.

 

Ora, antes de tudo, que nenhum praticante da “psicoterapia” que honestamente se esforce para ajudar seus semelhantes, se ofenda com qualquer coisa que se siga aqui nos “Comentários” desta semana, que têm somente a intenção de mostrar aos católicos como, com o mínimo de conhecimento de seu catecismo, eles dominam melhor a realidade do que muitos supostos “especialistas” em todo tipo de domínio, vindos de todo tipo de supostas “universidades”. Comecemos enquadrando o homem no universo como o número três das seis categorias de entes existentes;

 

1 O Criador de todos os outros entes, DEUS, Espírito Infinito, sem nenhum traço de matéria ou materialidade n’Ele.

 

2 Os ANJOS criados, espíritos finitos, mas também puramente espirituais, sem nada de material em sua essência.

 

3 Os HOMENS criados, espíritos finitos por sua alma espiritual, mas também animais materiais por seu corpo físico.

 

4 Os ANIMAIS criados, inteiramente materiais, com vida e movimento, mas sem nada propriamente espiritual neles.

 

As PLANTAS criadas, inteiramente materiais, com vida, mas sem movimento nem nada espiritual nelas.

 

Os MINERAIS criados, os mais materiais de todos, sem vida, movimento ou qualquer elemento quase espiritual.

 

Observe nesta gradação de seis partes de todos os entes como eles sobem do puramente material ao mais puramente imaterial, ou espiritual. Os minerais têm somente existência. As plantas têm existência, mas também vida que não é puramente material na medida em que, por exemplo, frustra todas as tentativas de nossos cientistas materialistas de reproduzi-la artificialmente. Em seguida vêm os animais brutos, que têm, além de sensação e movimento próprio, outros passos fora da materialidade, mas sem alcançar a espiritualidade, que está reservada, entre as criaturas materiais, ao homem, e que, por sua natureza, o dota de uma alma espiritual em si mesma livre de matéria, mas no homem íntima e misteriosamente unida ao seu corpo material. Essa alma é o que dá a ele, mas não aos animais brutos, a faculdade da razão, ou seja, a mente e a vontade, e a capacidade para a vida sobrenatural pela qual todo homem vivo sempre foi, é ou será, como os anjos, destinado a Céu, se assim livremente o desejar. Todas as outras criaturas materiais são criadas por Deus para servir ao homem a fim de que este cumpra esse destino espiritual. Já no reino espiritual, os anjos finitos conservam algo que é como um último traço de materialidade, no sentido de que existem multidões deles, assim como existem multidões de criaturas materiais, enquanto o Ser Supremo é um ser espiritual infinito que só pode ser Um.

 

Mas e se o homem virar as costas para o Ser Espiritual Supremo? Então esse homem desprezará todos os seres que compartilham do espírito, que são os anjos e os homens, e descartará até mesmo os animais e as plantas levemente espirituais, e se sentirá mais à vontade com os minerais, porque sua perfeita previsibilidade os torna os melhores assuntos de seu conhecimento. Assim, para o homem moderno, quanto mais material uma ciência pode ser, mais verdadeiramente “científica” ela é. Pelo contrário, a menor mistura de livre-arbítrio espiritual em qualquer ramo do conhecimento já será desprezada como “não científica”. A verdadeira teologia católica é um ótimo exemplo.

 

Infelizmente para o nosso homem moderno “científico”, as pessoas se interessam por pessoas, e precisam de pessoas; e precisam delas não como máquinas minerais, mas como pessoas, com toda a sua espiritualidade e livre arbítrio. Isso se dá porque o grande drama e propósito da vida de todas as pessoas é como cada um de nós, com o livre-arbítrio, está preparando sua eternidade, e isso não tem nada que ver com a pura matéria. Portanto, as ciências mais “científicas” são as menos interessantes, mas os materialistas estão fadados a interessar-se por questões humanas, mesmo que tenham de fingir que seus interesses humanos são, contudo, “científicos”. Daí a “psicologia”, a “psiquiatria” e todos os outros “psi-s”, e a “sociologia”, etc, etc. – todos estão buscando os restos de um Deus desaparecido!

 

Kyrie Eleison.


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